quarta-feira, novembro 30, 2005

Desmistificação do "cavaleiro andante"

Infelizmente, nos dias que correm, cada vez menos se acredita nos "cavaleiros andantes". Personagens misteriosas de capa e espada, homens corajosos e apaixonados montados num cavalo branco imaculado ou negro brilhante que percorrem mundo inteiro em busca da sua tão desejada donzela. Pois é meus amigos/as, desiludam - se, porque esta é uma raça em extinção ou mesmo inexistente. Quem nunca pensou ter encontrado o príncipe encantado e passado uns tempos este torna-se no "sapo" mais repugnante que conheceram até então. Aquela lenda de ser ao contrário já era! Esta época é a dos amores descartáveis, na qual tudo o que se diz hoje não tem o menor significado amanhã. Num momento, consomem - se corpos até à exaustão, para de seguida se esquecer a identidade da pessoa por detrás do corpo. Para no fundo, nos esquecermos de nós!


Este olhar @ mesadocanto blog

"Vem no fim da noite sem avisar
Dança no silêncio do teu olhar
A chamar por mim, a chamar por mim...
Chega com a brisa que vem do mar
Brinca com o meu corpo a desinquietar
Como um arlequim, como um arlequim...
Chega quando quer e não quer saber
Nem do mal que fez ou que vai fazer
É um tanto faz...
Querer ou não querer...
Chega assim cavaleiro andante
Louco e triunfante
Como um salteador
Pra no fim nos deixar a contas
Com as palavras tontas
Que dissemos por amor.
E eu que jurei nunca mais cair
Nesses teus ardis, nunca mais seguir
Esse teu olhar, esse teu olhar...
Que nada nos vale tentar fugir,
Para quê negar ou se querer fugir
Desse mal de amar, desse mal de amar...
Chega assim cavaleiro andante
Louco e triunfante
Como um salteador
Pra no fim nos deixar a contas
Com as palavras tontas
Que dissemos por amor.
(3xs)
Pra no fim nos deixar a contas..."
Cavaleiro Andante - Rita Guerra e Beto in Desencontros
P.S. - E se ainda alguém tiver dúvidas leia a letra do Cavaleiro Andante do Rui Veloso.
"Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz"

Desabafo

O homem nunca será mais do que matéria. Exceptuando a alma nada o salva (ou não) desse seu estado limitado, pecaminoso e efémero. O que andamos para aqui todos a fazer se o nosso único e imutável objectivo nesta vida é caminharmos para a morte? Para quê agradarmos aos outros, mantermos aparências, sermos possuidores de grandes fortunas materiais ou fazermos várias vezes as pazes com a nossa consciência se não podemos fugir de um caminho já traçado e tão definitivo. Por isso, vivamos intensamente como se o amanhã não existisse, pois nunca saberemos o amanhecer ao qual jamais assistiremos. E, porque a vida é um instante...

Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?Porquê?

sexta-feira, novembro 25, 2005

O Fado

1910, óleo sobre tela. 150x183 cm. Museu da Cidade, Lisboa

"Na penumbra de um quarto de meretriz entre o vinho e o fado, Adelaide da Facada, quinté parece uma Severa, e o tocador, o Amâncio cantam a sua tristeza sonhando."

Um dos quadros com maior impacto de José Malhoa será, sem dúvida, O Fado, que retrata personagens lisboetas numa cena urbana, num ambiente de interior, donde o sol, figura emblemática da sua pintura, desta vez se ausentou.

O fadista, Malhoa encontrou - o na Tendinha do Rossio. Fora - lhe indicado por uma prostituta da Rua do Capelão, na Mouraria. Tocava guitarra e "manejava e navalhava como poucos". Era ciumento e brigão. Foi Amâncio, assim se chamava, que apresentou ao pintor o outro modelo, a Adelaide. Era conhecida como "Adelaide da Facada", devido a um golpe profundo na face esquerda. Tinha um gato "cego de um olho e mau", o Escamado, mas que não foi possível obrigar à pose. A Adelaide recusou entrar no atelier de Malhoa, "temendo ir assistir a alguma cena menos decente".

Contratados a 6 vinténs por semana, as faltas eram, no entanto, frequentes. Durante essa semana várias foram as exigências marialvas de Amâncio e as descidas de alça da camisa que Adelaide ostenta no quadro.

"O Amâncio roído de ciúmes, agredia a companheira, logo que o pintor voltava as costas. Vinha a polícia e lá iam os dois para o Governo Cívil a insultarem - se mutuamente, até que o mestre Malhoa, com a sua influência pessoal, conseguia libertar os turbulentos modelos".

"Evocação de vício e de paixão, de abandono e de ardor amoroso, de relaxamento e de cantares, o tema não prima, nem pela beleza, nem pela moral".

Naturalismo, corrente simples ou simplista?

terça-feira, novembro 22, 2005

(Re)Aparição nocturna

photo taken by Damadespadas

Há sempre um dia em que algo nos chama para a noite vagabunda. Aí, pensamos em render-nos aos prazeres do dito pelo não dito, do certo pelo incerto. Tudo começa por uma mera troca de palavras e acaba numa esquina esquecida na cidade das luzes. Mas hoje não... hoje não existem prazeres que me vençam. O desejo foi esquecido no passar dos dias, ultrapassou - me a vontade de te ter, matei - a num outro regaço mais presente e verdadeiro. Quase me esqueci de ti, do toque da tua pele, do eco da tua voz quente, mas tu teimas em (re)aparecer. Até quando? Até quando esperarei por ti sem te eclipsar de vez.
“ Se te criei não sei
nem te quero assim
nem se é de ti que falo imagem que contemplo ou imagino
ou falo só de mim

As cores que antes espalhei e apaguei
Sob outras cores em vão chamadas tão intensas sempre voltam
Que em seu rumor afogam
Tudo o que em volta ainda há ou houve ou haveria

Na floresta de lume quero ver bem e despegar-te
De mim mesmo e definir-te e definir-me e entender
Onde este mudo apelo acaba e principia
Saber enfim não mais esperar-te ou inventar-te ou modelar-te
Serena turva imagem destes dias sem destino
Deles mesmos tecida em morte ou recomeço

E apenas sei
Que teus olhos sem cor feitos de mágoa e de mudança
Luz um país que não se vê e onde me vejo
E ao meu desejo inda para lá de todo o desespero e toda a
Esperança
Num outro eu amanhecendo
Apenas sei sabendo que não sei
Que é tempo de me ver para não te ver
E cego só entendo
Que neste halo a que me rendo ou eu mesmo entreteço
Só não me vendo deixaria
De ver-te aqui de minhas mãos nascendo."

Mário Dionísio

quinta-feira, novembro 17, 2005

"Esperas - me?"

photo taken by Damadespadas@Castelo Branco

“agora que embarcados rumamos ao sol nascente
na traineira que outrora sabíamos abandonada
talvez se aproxime de novo a luz que nos separou

porque amor não é apenas o outro lado do ódio
é também uma calha de afectos e reencontros
ainda que no cais onde ancorámos a solidão
tenha ficado para sempre o medo de sermos um

agora que embarcados rumamos ao sol nascente
naufraguemos de novo os corpos num mar de cetim
para que não mais a luz se dispa da sombra
para que não mais os dedos sangrem de espera”

Henrique Manuel Bento Fialho

domingo, novembro 13, 2005

Grand Tour

Sou nómada...
Quero devorar o mundo inteiro
Não me prender a um único lugar no mapa
Rasguemos os planisférios
Ultrapassemos fronteiras e barreiras
Vamos voar!
taken by Damadespadas@Aveiro
"Não posso estar em parte alguma.
A minha pátria é onde não estou."
Álvaro de Campos
taken by Damadespadas@Porto
"Vou onde o vento me leva."
Alberto Caeiro
taken by Vortex@Açores
"O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos."
Alberto Caeiro

taken by Damadespadas@Coimbra

"Tem só uma demora de passagem

Entre um comboio e outro, o entroncamento

Chamado o mundo, ou a vida ou o momento;

Mas, seja como fôr, segue a viagem."

Sá Carneiro

taken by Damadespadas@Palmela

"Passa no sopro da aragem

Que um momento o levantou

Um vago anseio de viagem

Que o coração me toldou.

[...]

taken by Damadespadas@Évora

O tédio das horas incertas

Pesa no meu coração,

Paro ante as portas abertas

Sem escolha, nem decisão."

(Fernando Pessoa)

taken by Piranha@Seixal

"Quê!Esta alma que sonha

O âmbito todo do mundo."

Fernando Pessoa

taken by Damadespadas@Idanha-a-Nova

"Triste de quem vive em casa, contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a asa

Da lareira a abandonar."

(Fernando Pessoa)

taken by Piranha@Algarve

"Estou sempre em viagem.

O mundo é a paisagem que me atinge

De passagem."

Helena Kolody

terça-feira, novembro 08, 2005

"Loucas são as noites"... na lua

.............LUA.............
confidente
misteriosa
feiticeira
poderosa
"Let's swim to the moon,
let's climb through the tide.
Penetrate the, evening that the,
city sleeps to hide.
Let's swim out tonight love,
it's our time to try.
Park besides the ocean,
on our moonlight drive.

Let's swim to the moon,

let's climb through the tide.

Surrender to the waking world,

that laps against our side.

Nothing left open and no time to decide.

We'll stop into a river on our moonlight drive.


Let's swim to the moon.

Let's climb through the tide.

You'll reach your hand to hold me,

but I can't be your guide.

It's easy to love you as I watch you glide.

We're falling through wet forests on our moonlight drive.

Moonlight drive.


Come on baby,

gonna take a little ride.

Come on.

Down by the ocean side.

Get real close, get real tight."

The Doors - Moonlight Drive

P.S. - All photos taken by Damadespadas





sábado, novembro 05, 2005

Desejo (-te)...

Não entendo se o desejo me liberta ou me prende. Por vezes, sinto - me voar quando penso em todos os momentos intensos de prazer que me deliciaram no passado. É o presente que me confunde...hoje não consigo libertar - me das amarras do desejo ou será que não o pretendo? Esta questão não me deixa sossegar. Começo por me rever em frames excitantes, mergulho em instantes de loucura e quando dou por mim a massa cerebral já se encontra irremediavelmente rendida aos meandros da sedução. Reinvento novos filmes, crio ambientes de mistério, nos quais tudo terá lugar e apenas quando acordo (oh!quando desperto) chego à conclusão que realmente "não há desejo pior que a vontade" e isso será sempre mais forte que a própria Razão. Apeteces - me...

Photo taken by Damadespadas@Palmela


"...Y por fin he encontrado el camino

que ha de guiar mis pasos

y esta noche me espera el amor

en tus labios

De cada mirada, por Dios,

ardía el recuerdo en mi interior

pero ya he desechado por siempre

la fruta podrida

En la prisión del deseo estoy

y aunque deba cavar en la tierra

la tumba que sé que me espera

jamás me vio nadie llorar así

Que termine un momento precioso

y le suceda la vulgaridad

y nadar mar adentro

y no poder salir

En la prisión del deseo estoy

junto a ti...

Y por fin he encontrado el camino

que ha de guiar mis pasos

y esta noche me espera el amor

en tus labios

De cada mirada, por Dios,

ardía el recuerdo en mi interior

y nadar mar adentro

y no poder salir

En la prisión del deseo estoy

en la prisión del deseo estoy

junto a ti."

Heroes del Silencio - Mar Adentro in El Mar no Cesa

quinta-feira, novembro 03, 2005

Lollypop trip

Estou virada para o Sana Lisboa Hotel...e lembrei - me de ti. Sim, tu que preenches os meus sonhos perversos e dos quais te tornas cumplice a cada passo que dou. Sem enganos, nem mentiras banais. Consegues fantasiar como um louco sem tempo, nem lugar concreto...por entre horas tardias e madrugadas de devaneios demoniacos. Gostei das uvas, e de ti, de ti...do que podes vir a ser, do que sou para para ti (e tu nem sabes.lol.Riso maldoso.). De mim...de lollypops...de tudo e de nada. No fundo, porque, eu e tu somos iguais!





Saiu pela noite,
Pelas ruas do Porto,
Procurando os seus olhos
Num copo já morto.
Perdeu-se na vida
Encontrou-a na Foz,
Entre o Molhe e a Avenida
Há tanta gente a sós.

E eu e tu somos iguais.

Esconderam palavras
Por trás das palavras,
Disseram amor
Sem se perceberem.
Dançaram na estrada,
No asfalto dos loucos,
Entre o céu e o nada
Foram morrendo aos poucos.

E eu e tu somos iguais.

E pediram-se um beijo,
Uma mão que os agarre,
Parados no tempo,
Para que o tempo não pare.


E eu e tu somos iguais.


E quando perceberam
Que a noite era só deles,
Mataram desejos
E rolaram beijos
Colados ao corpo,
Perdidos no chão.
Então os dois foram um,
E o tempo nenhum
Para o que tinham para se dar,
Põe o teu corpo no meu,
Deixa a noite acabar.
Então de um fez-se dois,
E o tempo depois
Foi tão pouco para viver,
Põe o teu corpo no meu
Sente o meu a amanhecer.
Hei, hei, hei, X 4

Eu e tu somos iguais...

Enrolou um cigarro
Que fumaram a dois,
Revivendo o prazer
Que viria depois.
Beberam olhares,
Lugares de veneno,
Nas paredes do quarto
O mundo é tão pequeno.

E eu e tu somos iguais.

Partiram no carro
A voar na cidade,
Encantados nas luzes,
Despistando a vontade.
Deram-se as mãos,
E os corpos também,
A 200 à hora
Não os vai vencer ninguém.

E eu e tu somos iguais.

E pararam o mundo
Numa rua qualquer,
Num abraço sereno
Sem ninguém perceber...

E eu e tu somos iguais.

E quando perceberam
Que a noite era só deles,
Mataram desejos
E rolaram beijos
Colados ao corpo,
Perdidos no chão.

Pedro Abrunhosa
P.S. - Ich bin hier...oder nein.Aaaahhhh.