Ausente
Fora do quarto, passeia-se mantendo a sua firmeza, a sua vigília. Chamei-a pelo seu nome. Ela apareceu à porta, emoldurada pela luz do dia, mas distante, já nao de todo presente, fora dali, já nalgum outro lugar, filme ou história.
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
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